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Entrevista com Dado & Bonfá do Legião Urbana

"O disco novo tem toda a nossa história, a nossa vida está nele"


SHOBIZZ: Por que lançar um disco tão perto de A Tempestade?

Dado: As coisas já estavam encaminhadas e a gente não queria conviver com elas, já tendo que trabalhar em outras. A Legião Urbana sempre subverteu as regras. Portanto, é normal.

SHOWBIZZ: Com músicas de A Tempestade ainda nas FMs!

Dado: Foda-se isso.

Bonfá: Para mim, se o disco saísse agora ou bem depois, a Legião Urbana vai sempre estar envolvida comigo. Mesmo que termine tudo agora, mesmo que eu pare de tocar... O disco tem todos os elementos da nossa música, em estilos, letras, ritmos...Ele é um filme, conta uma história mesmo, linear, da primeira a última faixa.

Dado: Cada disco da Legião tem uma idéia central. Então tivemos o desafio de não fazer simplesmente uma colcha de retalhos, de sobras. O Renato arquitetava os conceitos sempre de uma forma muito determinada. A gente contribuía, mas ele mais ou menos monopolizava as decisões.

SHOWBIZZ: Foi um desafio tipo "agora, estamos sozinhos, é só Dado e Bonfá"?

Bonfá: Foi. A gente poderia ter se perdido mesmo, mas acho que isso não aconteceu.

Dado: Este é um disco histórico, é uma obra tão relevante quanto as outras. Tem toda a nossa trajetória, nossa vida está nele.

Bonfá: Acho que este álbum vai até chamar atenção para A Tempestade, que as pessoas não ouviram muito - realmente, a situação tornou tudo muito triste, né? Mas era pra sair do jeito que saiu, não tinha como. Foi tudo muito rápido com o Renato. Apesar de a gente estar sabendo muito tempo da situação, é difícil aceitar, sabe? Ele estava trabalhando, tava lutando e tal, mas teve um tempo em que ele não ia no estúdio e a gente se envolvia no trabalho e tinha que deixar meio de lado a condição dele. Um dia eu liguei pro Renato e fiz a lista das músicas do disco, na ordem que eu queria - àquela altura, podia sair um duplo, um triplo. Ele abriu mão: "Ah, façam lista vocês em casa". Eu liguei e ele passou duas horas me dando esporro (imitando). "Não, não é isso, você não entende o que é Legião!" E o disco saiu na íntegra, do jeito que eu achava que tinha que ser. Ficou muito mais pesado do que se ele tivesse colocado "Clarisse", que entrou no novo álbum.

SHOWBIZZ: Houve uma preocupação para não deixar um clima muito pesado?

Bonfá: A ordem foi pensada em cima disso.

A capa do disco é um lugar específico de Brasília?

Bonfá: Não é nenhum lugar específico. Brasília é todo igual, tanto pode ser um lugar, como o outro...

SHOWBIZZ: Quando foi a última vez que vocês estiveram em Brasília, sem ser trabalhando?

Bonfá: Há dez anos. Minha família toda saiu de lá. Já estou no Rio há doze anos.

Dado: Hoje, na prática, todos os meus laços estão rompidos. Mas o que aconteceu conosco lá sempre fica; Brasília marca tudo que fizemos.

SHOWBIZZ: "Dado Viciado" já esteve para entrar em vários discos, mas nunca implacava...

Dado: Tinha um problema comigo. Eu sempre dei uma travada: "Porra, as pessoas vão achar que sou eu..."O Dado Viciado era um primo do Renato. Aliás, a "Mariane" conheceu o Dado, são histórias da mesma época. "Mariane" é o Renato falando para uma namorada que ele tinha quando era adolescente na Ilha do Governador. A gente não chegou a conhecê-la, mas o Dado deve estar em algum lugar na Ilha do Governador. Acho que ele tem uma banda de blues. Enfim, esse cara aí não sou eu. Tem no disco a frase "o personagem dessa canção não é o Dado Villa-Lobos" (risos).

SHOWBIZZ: A letra de "Clarisse", sobre uma garota de 14 anos que se corta, não assustou vocês, pais de crianças quase dessa idade?

Bonfá: Não. O que toca é que ela é autobigráfica.

Dado: "Estou cansado de ser vilipendiado e descartado / Ninguém diz que me entende, nunca quis saber". Ali ele já está falando pra gente: (assovio) "Ok, você nunca me entendeu, nunca quis saber de mim". Aí começa a história, da Clarisse, que foi internada numa clínica...É autobiográfica. No final, ele diz: "Sou um pássaro, me trancam na gaiola e querem que eu cante como antes".

SHOWBIZZ: As letras do Renato pregam relacionamentos mais limpos, mais sinceros, com mais amor. Mas músicas como "Clarisse" e "Flores Do Mal" dão a idéia de que ele não conseguiu nada disso para si mesmo.

Dado: Ele viveu um drama. Escrevia certas coisas e nunca conseguia vivê-las nos relacionamentos. Exemplo: O mundo anda tão complidado...(cantando com alegria artificial) Ah, meu bem, que bom te ver..."

Bonfá: Talvez um dia, talvez uma vez, ele tenha sentido e tenha sido tão forte que..."

SHOWBIZZ: Vocês como colegas, amigos, nunca se sentiram frustrados por não conseguir ajudá-lo?

Dado: Tem letra que ele fala sobre isso. "Comédia Romântica". Essa outra, "Flores Do Mal", ele fez pra uma menina.

Bonfá: Ele se envolvia demais e tomava uma rasteira muito grande.

Dado: Tipo assim, "Comédia Romântica". (Lendo) "Acho que só agora começo a perceber que tudo que você disse, pelo menos o que lembro que aprendi com você, está realmente certo." Isso pode muito bem ter siso o Bonfá que chegou pra ele e disse: "Olha, você devia..." Ou eu que falei: "Olha, você está errado..." E aí segue a letra: "Bem, mais certo do que eu queria acreditar, você gosta mesmo de mim, se arriscando a me perder assim, ao me explicar o que eu não quero ouvir". Pronto, isso resume. Se você tá indo contra o cara, não adianta...

Bonfá: Depois ele explica por A mais B, dá milhões de motivos pra dizer que ele é assim mesmo. Sabe: "Não fala de novo isso, não, senão você vai me perder mesmo".

Dado: "Não tente me ajudar. Eu sei que cê tentou, admiro, legal, mas chega!" Ele tinha surtos de amizade. E passava momentos arredios, não queria saber o que você estava pensando sobre o assunto e achava legal você se retirar. Isso era com amigos, família, com todos. Sabe, "a vida é um conspiração contra mim".

SHOWBIZZ: E "Travessa Do Eixão", de onde saiu?

Bonfá: Isso é de um grupo chamado Liga-Tripa, faz parte de uma época legal em Brasília. Eles eram os mais malucos de todos, eram hippies. Diziam: "Ah, que legal, vai ter show, né? A gente pode tocar também?" E nós: "Que nada, cara! Tu é hippie, xará!" Mas eles estavam cagando se a gente era punk, eram muito legais.

Dado: Essa música é o seguinte: tem uma outra música que não entrou nesse disco. (Olhando para Bonfá) Acho que vai entrar no próximo (risos cúmplices dos dois): "Setor De Diversões Sul"!

Bonfá: Era a baixaria de Brasília.

Dado: Você ia lá, tinha os puteiros, os bares, os recos, os travestis... A letra fala de um cara que se acabou lá, no esquema "mais uma dese de gim". Ele gostava mesmo é de fazer xixi na rua, essas coisas...E aí, ele tá lá, caído na calçada, pára um carro e - quem é? Eduardo e Mônica, que eram amigos dele, já casados. Eles falam assim: "A gente vai te levar no A.A. e fazer sua cura". E no meio do caminho eles começam a cantar: "Nossa Senhora Protetora..." A gente acabou só pegando esse finalzinho.

SHOWBIZZ: Esse não é o último disco da Legião?

Dado: É o último de estúdio. O que pode vir agora envolve gravações ao vivo. Tem o acústico da MTV, muitos shows gravados em estádios. Encerrou agora, mas podem surgir registros ao vivo e vídeos. Temos planos de fazer um home vídeo com imagens de arquivo.

Bonfá: Eu tenho vários storyboards para várias músicas. Os fãs pedem muito, e a gente nunca fez projetos assim. O Renato sempre queria fazer tudo, e acabava que não dava tempo. Era também filosofia da banda. As músicas tinham vários sentidos e não era legal deixar mastigadinha apenas uma interpretação. Mas eu gosto de fazer desenhos, roteiros, storyboards. E as letras com histórias mais definidas, tipo "Faroeste Caboclo", Eduardo & Mônica", se prestam a isso - tenho storyboard dessas duas. Vai acabar acontecendo algo por aí.

Dado: A música da gente continua relevante. Até as que falam de política não estão datadas. "Nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado."

Bonfá: A Legião, a gente nunca vai esquecer. A gente vai continuar. Eu pretendo também fazer camisetas da banda só com desenhos.

SHOWBIZZ: O que lhes parece a mitificação do Renato, um culto comum no rock, de Hendrix a Cobain?

Dado: Normal, só acontece com quem realmente teve importância. Até o dia 11 de outubro, a gente era apenas uma banda de rock. Como os Paralamas, os Titãs... A gente até pode ter tido uma trajetória diferente, mas sempre nos vimos como eles. Até então, estávamos sujeitos a lançar um disco e alguém achar chato, "esses caras fazem sempre a mesma coisa". Temos muito orgulho de ter feito parte da Legião.

Bonfá: E de ter trabalhado com o Renato

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Pato Fu


Lá vem o pato...(entrevista com o Jonh)

Essa entrevista é mais que interessante. Foi feita por esses dois indivíduos que estão logo abaixo do título em 1995 na loja Guitar Shop. John dizendo que não queria trabalhar mais com bateria... mal sabia ele! Foi cortada a introdução da entrevista. Mas basicamente falava da transição do Sustados para o Pato Fu e que eles agora estavam fazendo sucesso com Sobre o Tempo. (Djenane Arraes)

* Não vai adiantar perguntar o que significa Pato Fu, que pelo menos sei que vai me enrolar com 2 ou 3 explicações absurdas. O mesmo acontece ao nome do seu primeiro disco, Rotomusic de Liquidificapum?

John : Não. Rotomusic de Liquidificapum é mais ou menos o resultado do que a gente faz. É uma tentativa de explicar o tipo de som que a banda faz. Jornalista adora rótulo. É a maneira mais simples de dizer para quem está lendo, como é o som da banda. Como a gente é inrolutável, nós fazemos o favor de arrumar um rótulo para eles. Deu trabalho, ma acho que eles não entenderam direito, pois eles sempre perguntam.

* Do primeiro disco para o segundo, o que se sentiu de diferente, com exceção da gravadora?

John : Metade do repertório já existia quando o primeiro foi feito. O segundo foi muito melhor gravado. O primeiro foi feito em oito canais na correria. O outro foi feito em um mês em melhores condições. Isso acaba refletindo na parte conceitual porque a gente consegue passar melhor as idéias.

* No Sexo Explícito você já mexia com bateria eletrônica?

John : Não.

* Você acha melhor ou pior, mexer com bateria eletrônica do que com bateria acústica?

John : Não é pior nem melhor, é um outro jeito de se fazer música. Eu não faço nenhuma apologia sobre bateria eletrônica. A gente não toca bateria eletrônica por falta de baterista. Eu tocava bateria antes do Pato Fu e quando existia o Sustados Por Um Gesto eu arrumei uma baterista, o Beto, mas depois eu vi que não queria mais trabalhar com bateria acústica.

* Vocês estão pensando em mais um disco?

John : Já tem música nova pra caramba. Nos shows a gente está tocando uma música inédita, que não está nem no primeiro, nem no segundo disco, que se chama Porque Te Vas, que é uma música em espanhol. A gente é um grupo poliglota.

* Tocar com namorada na banda não é meio perigoso? Se vocês terminarem, como é que fica a banda?

John : A gente pode analisar isso friamente: Ah, como é que eu vou fazer quando a gente terminar. Vou ficar tocando sem olhar para a cara dela? Essas coisas acontecem, como aconteceu no Kid Abelha. A Paula brigou com o Leoni, mas eles continuaram a tocar juntos por uns dois anos ainda. Não dá para continuar junto. Mas isso analisando friamente, porque essas coisas a gente não escolhe. Ou então pensar: É, você tem razão. Realmente é melhor você não ter uma namorada integrante no conjunto. E o que eu vou fazer com essa informação? Não vou fazer nada. Vou continuar namorando a Fernanda.

* Como é que foi o rolo com a Unimed?

John : Não foi rolo. A gente fez uma música, então a Unimed apareceu. Eles ouviram e gostaram e resolveram usar a música.

* Mas eles pensaram em processar vocês?

John : Não. Nós é que achamos que eles iriam processar. Eles ligaram e a gente não queria nem atender, por achar que eles iriam nos processar, mas era para propor aquilo que foi feito no fim das contas. A troca que a gente fez foi a seguinte: eles não nos processam e ganhamos o clip, enquanto eles usam esse material como propaganda. E a música ficou conhecida até no Rio, onde a Unimed é completamente diferente da Unimed de BH.

* Naquela época ouviu-se falar muito do Pato Fu por causa daquela propaganda. Agora o mesmo acontece com Sobre o Tempo. Como tem sido a escalada de vocês de lá para cá?

John : Agora ficou mais legal esse negócio de clip, porque tem MTV em Belo Horizonte. Agora nós estamos no mapa. Uma das coisas mais ridículas de BH era o fato de não haver MTV. Agora há onde se veicular clip. Antes, os clips eram passados muito da TV Minas, que era uma mãe para as bandas de rock de Belo Horizonte. Mas mesmo assim seu público é muito específico: assim como a MTV, mas essa já é uma emissora de música.

* Em O Processo de Criação Vai de 10 Até 100 Mil, vocês falam sobre stage dive. O que vocês acham dessas pessoas que pulam nos shows?

John : Nós gostamos pra caramba. A gente pula também. não é crítica, é um elogio. É nessa música que o povo mais pula.

* No primeiro disco o som era mais pesado. Isso tem algo a ver com o fato de a gravadora ser a Cogumelo?

John : O primeiro disco era mais pesado por causa da Cogumelo. A Cogumelo é uma gravadora muito específica de metal. Nós escolhemos as músicas mais pesadas para serem gravadas pela Cogumelo, apesar da metade do repertório do segundo disco já existir naquela época. A gente deixou as mais leves para o próximo disco. Não foi uma pressão da cúpula da Cogumelo sobre a gente, mas a gente percebeu que se fizéssemos um disco muito levinho dentro da Cogumelo, a própria distribuição iria ficar comprometida. As pessoas que costumam comprar na Cogumelo iriam olhar o disco e dizer: Ah, isso não é a minha onda. A culpa não é da Cogumelo. A culpa é nossa.

* Quando vocês gravaram Sobre o Tempo, já era previsto que essa música faria o sucesso que fez?

John : Bom, dentro de uma gravadora a coisa é bem assim. Eles escolhem uma música que vai ser o primeiro hit. Eles apostam uma certa música em cima da qual vai trabalhar. A gravadora tem um trabalho muito forte em cima disso, por que ela faz um cedezinho com uma música só e manda para as rádios, que se chama CD-Promo e é isso que determinaque todas as rádios vão trabalhar com a música ao mesmo tempo. Eu não previ o sucesso de Sobre o Tempo, mas a partir do momento que as músicas são lançadas você tem que escolher uma música entre as outras para ser tocada, depois outra, depois outra e assim por diante.

* Do Sexo Explícito para o Pato Fu você mudou a forma de agir ou a forma de pensar?

John : Bem, o Sexo Explícito era uma banda muito legal, mas não aconteceu por dois motivos: o primeiro foi que ela surgiu no pior momento do rock nacional, onde começou a tocar lambada, música sertaneja, e o rock estava em decadência. O segundo motivo é que o som que o Sexo Explícito fazia era legal, mas um pouco mais difícil que o Pato Fu. Era bem escrachado também. O Sexo Explícito fugia do clichê como o diabo foge da cruz, mas o Pato Fu usa clichê para ser sarcástico, esbarra nele e sai fora de novo.

* Que recado você gostaria de mandar para essas bandas que estão começando agora?

John : Ce tá ouvindo o solo que aquele cara está fazendo no fundo da loja? O cara está tocando legal. Ele sabe tocar, mas realmente ele não está inventando nada. O recado é não seguir fórmulas de uma maneira burra. Mesmo que você use fórmulas, você tem que aprender de alguma forma, tente colocar alguma coisa naquele negócio.

* Durante toda a vida você quis tocar em uma banda ou você fazia por diversão, mas nunca pensou em fazer carreira?

John : Bom, eu comecei a tocar guitarra aos 15 anos, hoje eu tenho 29. eu tocava guitarra, mas a atividade importante para mim era andar de skate, que tanto agora como na época, era um negócio muito ligado a música. Tem uma música específica que skatista gosta que é para andar de skate ouvindo e tem a ver com seu estilo de vida. Naquela época, muitos amigos que andavam de skate trocaram essa atividade pela música. Eu achava essa troca bem idiota e acabei no Pato Fu. Quando você é novo tem que fazer uma escolha que é o vestibular, para estudar uma coisa que talvez vai fazer o resto da vida. Nessa fase você não está preparado para fazer esse tipo de escolha. Você pode até acertar. É o efeito Forrest Gump: você é uma peninha voando, de repente bate um vento a toa e você muda completamente o rumo de sua vida.

* O skate sempre foi algo muito ligado a rebeldia. Seus pais eram muito assim: vai estudar! Você não quer saber nada da vida?

John : meus pais me deram o maior apoio, eu não posso reclamar de nada. Eles me deram guitarra, skate... A gente transita muito nesse mundo. Com relação a rebeldia, acho que todo mundo tem essa fase na adolecência, que é uma maneira de se impor diante do mundo. Mas rapidamente, e é bom que isso seja rápido porque dentro da rebeldia existe um reacionarismo forte demais, você sai dessa fase.

* Como é que você encara o meio em que você trabalha? Nesse você convive com os piores tipos de pessoas e com isso adquire mais experiência. Como foi isso para você?

John : No submundo do rock você chega com sua cabeça. É o livre-arbítrio. Se você quiser afundar na lama, é mole. A lama está lá. Está cheio de gente querendo te empurrar para lá e a lama é perfumada. É bom que isso tenha acontecido agora. A lama fede para mim, não me atrai. Com o Kurt Cobain, por exemplo. É clichê dizer que o cara foi destruído pelo sistema, pelas drogas, mas é verdade. Foi o que aconteceu. Parece história da Carochinha. Renato Russo quase pirou por causa disso. Alguns ao superar isso ficam chatos; outros ficam super-cabeça.

* Há algum caso que ilustra essa lama?

John : Bom, uma vez estávamos tocando em Viçosa e um casal começou a fazer sexo explícito , por ironia, na frente do palco. Pegaram o canhão de luz, focalizaram o casal e formaram uma rodinha de torcida ao redor dos dois. Pode?

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Entrevista com Cássia Eller

Sobre o acústico MTV

Saraiva.com.br - Como foi para você fazer esse acústico?

Cássia Eller - Foi muito legal, a gente ensaiou muito para isso. Era uma coisa que eu já esperava fazer há muito tempo, não digo que estava preparada, mas tinha uma vontade muito grande e deu tudo certo. Fiquei feliz prá caramba com o resultado.

Saraiva.com.br - Quem escolheu o repertório do "Acústico"?

Cássia Eller - Quando a gente chegou na fazenda prá preparar todo o show, eu já tinha escolhido quatro músicas das dezessete que a gente gravou. Depois o Nando (Nando Reis) e o Luiz Brasil chegaram com mais sugestões.

Saraiva.com.br - Você sempre canta Beatles, por que a escolha de "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"? Alguma razão especial?

Cássia Eller - Eu queria gravar Beatles, só que eu não sabia qual música. Tinha pensado em gravar "Come Together", porque a gente já vem tocando ela nos shows do disco passado, mas depois resolvemos gravar "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".

Saraiva.com.br - Como foi fazer uma nova releitura para "Malandragem"?

Cássia Eller - A gente começou tocar a música desde a primeira vez que começamos a ensair em Teresópolis, mas não eestava saindo do jeito que a gente queria. Terminamos o ensaio numa noite e fomos jogar baralho, escutar música e tocou no rádio uma música com uma levada bem anos 60/70, mais puxada para jovem-guarda, aí um de nós disse: acho que malandragem é isso aí. No dia seguinte começamos a tocar a música e foi de cabo a rabo.

Saraiva.com.br - Como foi fazer um show na maior parte do tempo sentada, já que você tem uma postura de palco bem diferente?

Cássia Eller - Não foi a primeira vez que eu fiz um show assim. Eu tive a oportunidade de fazer um show assim que gostei muito, "Violões" em 1996. E também, acabou não sendo difícil para mim porque quando eu toco em casa, quando vou aprender as músicas e quando vou preparar um repertório, eu tô sentada e tocando violão, exatamente na situação do show. Tiveram também os ensaios, e vou dizer de novo, eu estava querendo muito fazer esse acústico. Não deixou der ser rock'n'roll e nem deixou de ter peso por isso. Não fiz nenhuma força para ficar me segurando, nem ficar mais comportada, foi uma coisa que eu quis fazer assim mesmo.

Saraiva.com.br - Você pretender fazer shows com o repertório desse acústico, com a mesma estrutura e por onde começa?

Cássia Eller - A gente pretende sim, que tenha a mesma estrutura, com o visual o mais parecido possível do show. Nós devemos estrear em Brasília, depois São paulo e rio de Janeiro.

Saraiva.com.br - O seu acústico tem uma diferença em relação aos outros já feitos pela MTV no que diz respeito ao números de convidados. Você não tem uma grande orquestra e diversos convidados. A idéia inicial sempre foi essa?

Cássia Eller - Essa coisa de convidar poucas pessoas para participar do show, talvez seja uma característica minha que sou um pouco egoísta, não sei dividir o palco. Não é coisa de ser metida, não é isso, mas é que eu viajo muito na hora que eu tô cantando. Já cantei algumas vezes com o Frejat (Barão Vermelho) e o Luiz Melodia, e aí a gente combina na hora do ensaio: você canta essa parte e eu canto essa. Chega na hora eu não calo a boca nunca, fico cantando o tempo inteiro sozinha. Então eu já tinha avisado que não queria convidar muita gente, porque eu iria me atrapalhar, não iria conseguir fazer as coisa de acordo com o combinado.

Saraiva.com.br - O fato de você ter colocado a música "Top Top" dos Mutantes no final foi com a intenção de passar alguma mensagem?

Cássia Eller - Não sei. Eu achei esquisito quando a gente fez o roteiro e deixamos "Top Top" por último, porque na minha cabeça era "Quando a Maré Encher" que seria a última música. Mas depois escutando o disco, eu gostei muito dessa ordem e acho que sintetiza bem, assim como "Non, Je Ne Regrete Rien" que abre o show, e eu mesma fiquei assustada de termos escolhido para ser a primeira música, mas já dá uma idéia de que eu não queria que o show fosse previsível.

Saraiva.com.br - Passou pela sua cabeça, de no meio do show mudar tudo, fazer de outro jeito que não o combinado?

Cássia Eller - A única coisa que aconteceu foi que eu queria que o acústico fosse gravado direto como um show. Se alguém errasse a gente deixaria para corrigir no final, mas eu mesma errei no primeiro dia, na primeira música e a gente já teve que repetir. De resto foi tudo certo, numa boa mesmo, eu gostei muito de fazer.

Saraiva.com.br - Teve alguma música que você gostaria que fizesse parte desse trabalho e acabou não entrando no show?

Cássia Eller - Não me lembro, acho que não.

Saraiva.com.br - Por que você resolveu ensaiar em uma fazenda?

Cássia Eller - Me mostraram uma foto da fazenda , que já foi uma clínica de recuperação de drogados e fazia um tempão que estava vazia e não era alugada. Eu gostei do lugar porque era grande prá caramba e tinha espaço para todo mundo. Os equipamentos ficavam todos montados em uma sala e a hora que algum de nós tínhamos vontade de tocar, ensaiar, estava tudo ali. Aconteceu várias vezes de alguém querer tocar separado e depois mostrar a idéia para o grupo. No começo achei que três semanas fosse pouco tempo para aprontar todas as músicas, mas nessas circunstâncias de estar com tudo pronto no mesmo local, podendo tocar o dia inteiro ou não, deu tudo certo.

Saraiva.com.br - Você sempre toca Beatles. Qual a importância deles para você?

Cássia Eller - Aprendi a cantar, tocar violão, aprendi tudo, a diferenciar os instrumentos numa banda e a noção de inglês. Aprendi tudo com eles.

Saraiva.com.br - Se você fosse gravar um disco totalmente diferente do que você fez até hoje, o que você gravaria?

Cássia Eller - Bom, em primeiro lugar eu não gosto de gravar disco. Então, a última coisa que penso é em gravar. Eu já pensei em fazer um disco só de música flamenca. Isso seria a coisa mais diferente que eu faria na minha vida. Mas acho difícil isso acontecer.

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Cássia Eller "está na paz" com o rapper Xis


Na metade inédita do CD "Acústico MTV" de Cássia Eller, que sai agora, está o rap paulistano "De Esquina", que a cantora leva com três percussionistas da pernambucana Nação Zumbi e com o autor da música, Xis. A letra fala sobre fissura por cocaína, e comemora: "Eu tô na paz".
A história tem seu lado pessoal, diz Cássia, 38.
"Quando me mostraram essa música, eu estava fazendo tratamento de desintoxicação de cocaína, que durou de 98 a 2000. Encontrei Jesus, sigo com ele até hoje, limpinha", conta, entre gargalhadas.
"Estava me atrapalhando muito, a ponto de perder compromissos, ver a voz indo para a cucuia, irritar o pessoal da banda. Tinha criança dentro de casa, minha mulher não estava gostando. Fui eu mesma que quis fazer, foi legal", resume.
A fase "limpa" se consuma em momento de tranquilidade e acomodação: violões e percussões, canções calmas, terceiro disco ao vivo, segundo acústico, mais uma vez as regravações dos sucessos "Malandragem", "E.C.T.", "Por Enquanto", "O Segundo Sol", "Nós", "1º de Julho".
Cássia defende a redundância: "Não gosto muito de fazer disco de estúdio, me sinto pouco à vontade. Na hora de colocar a voz definitiva sofro para caramba, às vezes tenho de repetir oito vezes. Os técnicos opinam, não gosto. Gosto de fazer disco ao vivo".
E sobre as insistentes regravações? "Nando Reis (produtor do acústico com Luiz Brasil) ficou preocupado com isso, mas Jimi Hendrix gravou várias vezes 'Hey Joe'. Acho que está dentro."
Justifica a escolha de "Non, Je Ne Regrete Rien", sucesso com Edith Piaf, para abrir o acústico: "Nando tinha em mente fazia tempo, mas estava receoso de me falar. Quando falou, nem precisou me convencer. Edith Piaf é exagerada na pronúncia das palavras, me identifico com isso".
Uma artista fácil de ser convencida? "Não sou fácil, não. Nando levou dois anos me convencendo a gravar 'Queremos Saber', do Gil. Eu travava um pouco no jeito de cantar, achava que não combinava. Só facilitou quando ouvi a gravação do Erasmo Carlos. Nando também me levou o disco do Riachão, mas havia apontado outra música. Pirei com 'Vá Morar com o Diabo', gravei essa."
Nem tudo é como Cássia queria no acústico. "Minha idéia inicial era que os percussionistas da Nação Zumbi fizessem o show inteiro. A percussão seria o lance forte, como acabou sendo mesmo, mas não com a Nação. As coisas vão andando, no ensaio nunca é mais como na teoria", explica, vaga.
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)

(Folha de São Paulo - 23.05.2001)

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Fernanda Takai fala sobre o álbum Isopor

Fernanda Takai deu alguns toques sobre o Isopor e ainda aproveitou para mostrar um ponto interessante que serve de contra-argumento a revisão desse álbum feita por mim também nessa semana. Seria o contraste?

*Apesar do aspecto clean, o Isopor é um disco "pra baixo" no geral cheio de temáticas como saudade, atropelamento, culpa, crise de existência. Não é um contraste muito grande com o nome Isopor, que sugere coisas leves? .

Fernanda Takai : Sinceramente nunca pensei nesse disco como um disco pra baixo. Por vezes a estética sonora traz justamente um contraponto com a letra. Outras vezes a fortalece. Começamos o disco com "Made In Japan", uma das coisas mais "pra cima" que fizemos. Contraste grande? É isso mesmo! Acho que o contraste é uma palavra-chave em nossa carreira.

*O segundo disco de ouro significou alguma consolidação dentro da mídia?

F. Takai : Para a indústria importam os números. Um artista que vende bem, tem sempre mais sorrisos pela frente. Não fazemos os discos pelos números, só fazemos pela música que sabemos fazer. Se ele vende bem, facilita nosso trabalho. Se não vende, temos que ir em frente procurando alternativas que nos permitam ainda assim manter a banda nos trilhos.

*A edição limitada do Isopor com a música das Olimpíadas ficou parecendo um caça-níqueis, no fim das contas e não desceu muito bem. Mas não era a idéia original da banda. Qual era a idéia original do Isopor 2ª edição? .

F. Takai : Nenhuma segunda edição desce bem pra gente, acredite. Foi claramente um projeto da gravadora. Havia a música das Olimpíadas que não estava disponível em lugar algum, a não ser em nossa página. Eu preferiria que um single dela fosse encartada numa revista de esportes por exemplo... O Isopor já estava fechado pra gente. Mais uma coisa (como as coletâneas) sobre a qual não temos poder contratual.